Roteiro dos sonhos! 4 dias pela estrada real
Quem escreve para o blog hoje é o Ricardo Muniz! Ele, a Mírian Almeida e o Vando, cachorrinho deles, fizeram um roteiro maravilhoso pela Estrada Real. Eu pirei com os relatos dele e quero fazer a trilha em breve. Tenho certeza que você também vai curtir. Dá uma lida! E se tiver sugestões de lugares e roteiros bacanas assim, compartilha com a gente!!!
Quer misturar aventura, história, religião e ainda comer quitutes incríveis? Uma boa pedida é percorrer um dos quatro caminhos da Estrada Real. Se tiver bastante tempo e disposição, vale percorrer os quatro!
Segundo o site do Instituto Estrada Real, que é incrível e vale muito pena a visita para planejar sua viagem, a Estrada Real é a maior rota turística do país. São mais de 1.630 quilômetros de extensão, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
São quatro caminhos diferentes percorridos em sua maioria em estradas de terra que podem ser realizados independentemente: O Caminho Velho que liga Ouro Preto a Paraty, o Caminho Novo de Ouro Preto ao Rio de Janeiro, o Caminho dos Diamantes de Ouro Preto a Diamantina e o menor deles o Caminho Sabarabuçu que passa por cidadezinhas próximas à Ouro Preto. Todos têm o intuito de resgatar as tradições do percurso, valorizando a identidade e as belezas da região.
Decidimos percorrer a Estrada Real logo após as festas de fim de ano. Eu fui dirigindo, a Mirian, minha esposa, foi a navegadora, e o primeiro imediato foi o Vando, nosso cachorrinho. Inicialmente o plano seria o Caminho Velho, mas tínhamos poucos dias, menos de uma semana, então trocamos o destino e fizemos os quase 400 km do Caminho dos Diamantes. Nós conseguimos completar o roteiro em 4 dias. Apesar disso, recomendo fortemente separar no mínimo uma semana para que seja possível visitar parques, cachoeiras e vivenciar um pouco mais das cidadezinhas que passam pelo caminho.
Nós percorremos o caminho no sentido Ouro Preto a Diamantina de jipe 4×4, que por contas das chuvas foi essencial. Vários lamaçais e pistas escorregadias deixariam complicado fazer com um carro sem tração. No período da seca talvez seja possível em um carro um pouco mais alto. No caminho cruzamos com cerca de uma dúzia de ciclistas percorrendo o caminho. Quem for escolher esta opção deve pensar em realizar o sentido inverso por conta do declive maior.
Para deixar a estrada ainda mais divertida, o Instituto fornece no seu site os trajetos planilhados que fazem você se sentir numrally! Então imprima todas, arrume um co-piloto/navegador de confiança e comece seguindo os marcos da estrada distribuídos por todos os caminhos e que indicam a direção a ser tomada. Nós também levamos uma trilha gravada no app do wikiloc para nos auxiliar e realmente só foi útil para achar o caminho dentro das cidades. O legal mesmo é seguir os tijolinhos marcados pela estrada de terra.
Outra dica que é muito legal é o passaporte Estrada Real. Com um cadastro prévio no site você ganha o passaporte, branquinho, pronto para ser repleto de carimbos a cada cidade que passa. Tem que trocar por um quilo de alimento. Ao final, se conseguir um número mínimo de carimbos você ainda ganha um certificado! No caso do Caminho dos Diamantes são necessários 10 carimbos. Lembre-se de imprimir a lista dos locais que carimbam que está disponível no site. Alguns são mais difíceis de achar, o que dá um ar de caça ao tesouro à viagem, mas nada que uma boa conversa com os moradores não ajude a encontrar.
O caminho por si só é uma explosão de diversidades culturais e naturais, passamos por serras, morros, inúmeras cachoeiras que infelizmente por conta da chuva não pudemos aproveitar, florestas de eucalipto com névoa quase igual de filme de terror, pinturas rupestres de 7.000 anos, museus que contam a história dos tropeiros e dos exploradores de ouro, igrejas imponentes e outras singelas escondidas no alto de morros, como a do Morro do Redondo que, como a Bárbara diria, tem uma vista seeeeeensacional.Não deixe de reservar também um tempinho pro Santuário do Caraça e para aproveitar as cachoeiras e rios da cidadezinha de Milho Verde ou Morro do Pilar.
Além disso, a gente passa por muitas cidadezinhas pequenas onde o tempo parece parar e esperar o próximo dia para acontecer, onde os moradores estão sempre dispostos a um dedo de prosa e onde você acorda de manhã com os sinos e avisos da igreja e muita prova de comidinhas deliciosas, queijos da cidade de Serro, mel de Santa Bárbara e até um feijão tropeiro de beira de estrada espetacular que após uma manhã inteira de trilha na lama era tudo o que precisávamos. Atenção: uma parte do caminho está ainda interditada, logo no começo, entre Camargos e Santa Rita Durão, por conta do rompimento da barragem na região de Mariana. Para contornar deve-se usar um desvio pelo asfalto (MG-129) de Mariana até Santa Rita Durão.
Depois que já falei um pouco de tudo, seguem alguns pontos muito bacanas que passamos:
1º Dia: Ouro Preto – Mariana – Santa Rita Durão – Catas Altas – Santa Bárbara – Barão de Cocais.
Depois de muitas ladeiras, igrejas e história em Ouro Preto foi hora de encarar o Caminho dos Diamantes. Retiramos nossos passaportes no Centro Cultural SESI na Praça Tiradentes e seguimos após o almoço rumo à Mariana. Esse trajeto é tranquilo e curto por estradinhas estreitas de paralelepípedos. Chegando em Mariana temos nosso primeiro carimbo na Câmara Municipal, é um prédio histórico que já abrigou a cadeia local e possui um pequeno museu. É bom para se ambientar e aprender a rotina de carimbar os passaportes.
Confesso que passamos bem rápido pela cidade, ainda é possível sentir os impactos que o rompimento da barragem no distrito de Bento Rodrigues em 2015 causou sobre a população. Você é abordado por inúmeros guias e vigias de carro oferecendo serviços, muitas dessas pessoas perderam os empregos por conta do acidente. Partindo de Mariana, ainda por conta do acidente nós somos obrigados a deixar a Estrada Real e utilizar o desvio pela estrada pavimentada MG-129 até Santa Rita Durão.
Santa Rita é a primeira das cidadezinhas pacatas onde o tempo para, a praça da igreja Matriz é super fofa, com alguns mercadinhos pertos e se você tiver sorte encontra algum botequinho aberto. Saindo da cidade começa a aventura de verdade, deixamos pra trás o asfalto e começamos a estrada de terra seguindo os marcos, sentido Catas Altas e já temos um gostinho do visual que vai nos acompanhar durante todo o trajeto.
Depois do carimbo de Catas Altas continuamos por estradinhas em direção a Santa Bárbara e aí mais outra surpresa pelo caminho. Escondido na estrada principal está o Aqueduto Bicame de Pedra, construído por escravos em 1792 na época da exploração do ouro. Ainda restam bons metros do monumento que rende boas fotos e é possível acessar o topo por uma escada pitoresca encravada na parede. Saindo de lá não se esqueça de comprar mel em Santa Bárbara, não a toa é apelidada de cidade do mel!
2º Dia: Barão de Cocais – Cocais – Ipoema – Itambé do Mato Dentro – Morro do Pilar.
Esse foi um dia inteiro praticamente embaixo de chuva, onde o 4×4 foi necessário. Saímos de Barão de Cocais, uma cidade industrial onde encaramos uma subida de morro em lama escorregadia em meio a plantação de eucaliptos. O visual foi legal, uma névoa permeava a estrada e exigia bastante atenção na pista.
Essa região é repleta de cachoeiras, mas por conta da chuva e pelo fato do Vando não curtir muito água, não conseguimos visitá-las. Duas em especial têm o acesso bem fácil pelo Caminho dos Diamantes, a Cachoeira de Cocais e a Cachoeira Pedra Pintada, ambas cobram taxa de visitação e são próximas ao Sítio Arqueológico Pedra Pintada, o nosso destino nesta manhã.
Chegando ao Sítio tomamos um susto com o portão fechado, mas como estávamos dentro do horário de visitação (9:00 hs às 16:00 hs) e como o cadeado não estava trancado abrimos o portão mesmo assim e entramos. Aprendemos que muitas vezes nas Minas Gerais é assim que funciona, você entra nos lugares como se estivesse em casa e tudo dá certo.
Quem nos recebeu foi a Dona Maria, super simpática e disse para a gente buzinar que já já o seu marido, Zé Roberto, viria nos guiar. Enquanto isso nos ofereceu um cafezinho e foi contando a história da família e do sítio que se fundem em uma só. Até hoje é a família que toma conta das pinturas e toda visita só pode ser feita acompanhada por um deles e ainda bem que é assim!
O seu Zé é outra simpatia e um poço de conhecimento, nos explica sobre toda a plantação da fazenda e sobre o que aprendeu com os pesquisadores da UFMG que estudaram as figuras. Nós fomos sortudos, a chuva deu uma trégua e pudemos ver uma paisagem deslumbrante dos paredões, do vale e algumas cachoeiras ao longe. O Vando acompanhou nosso passeio e ficou todo feliz tentando interagir com um casal de falcões que estava por ali.
A taxa de visitação é R$ 10,00 por pessoa e é revertida para a manutenção do Sítio. A estrutura é ótima: banheiros, estacionamento, tudo limpinho e eles ainda mantém uma lojinha com tudo produzido na fazendo que vale a pena a visita. Tem mel, queijo, café, doces e geleias. Você pode combinar com a Dona Maria que eles fazem o almoço também. Ah! Ai também é o ponto de carimbo do passaporte!
Seguindo viagem para Ipoema nosso ponto de carimbo foi o Museu dos Tropeiros, fica bem no centro da cidade e a entrada é gratuita. É pequeno, mas dá pra entender como os tropeiros se viravam. Aproveite para esticar as pernas caminhando por entre os equipamentos, capas e panelas que fazem parte da exposição.
Após Ipoema íamos nos dirigir para o ponto alto, literalmente, do nosso caminho. Embora oficialmente não faça parte do Caminho dos Diamantes e da Estrada Real, fomos até o Morro do Redondo seguindo as indicações da trilha do Wikiloc. Caso você não tenha o app, o caminho é bem sinalizado na direção do Parque Estadual do Limoeiro/Cachoeira Alta e só perguntar na cidade eles te indicam a direção.
No caminho para o morro é possível avistar a Cachoeira Alta e a Cachoeira do Patrocínio ao longe. Ambas possuem estrutura com restaurante, lanchonetes, área de camping e pousada, como seguimos em frente e não fomos até lá maiores informações aqui: https://pousadacachoeirapa.com.br/ .
Subindo o morro chegamos a quase 1200 metros de altitude e uma paisagem deslumbrante! Além do mirante, uma igrejinha super bem conservada e uma escultura bem legal integram o topo do morro. É realmente para se parar, respirar e admirar a imensidão do lugar. O acesso é fácil, você estaciona o carro já no alto do morro e após alguns degraus já está lá em cima.
Nosso dia terminou na cidade de Morro do Pilar e tivemos nosso melhor ponto de carimbo de toda a rota: o Café com Arte e Chocolate! Estávamos com fome, chegamos no final da tarde e fomos recebidos com muita simpatia pela Eunice, ela deu dicas das redondezas e nos convenceu a dormir em Morro do Pilar ao invés de seguir viagem. Ela inclusive tratou de falar com a dona da Pousada Indaiá (R$ 80 a diária) para acomodar o Vando também em nosso quarto. Além de tudo isso, as coxinhas de frango recheadas que tinham acabado de ser feitas estavam maravilhosas.
3º Dia: Morro do Pilar – Conceição do Mato Dentro – Tapera – Alvorada de Minas – Serro – Milho Verde.
Após sermos acordados pelos sinos e anúncios da Igreja, sim é cidade pequena do interior, lembra? Seguimos viagem e muita lama pelo caminho, esse foi o motivo da Eunice ter recomendado para passarmos a noite em Morro do Pilar!
Aqui vai outra dica. Sempre que estiver chegando a hora do almoço e você passar por alguma cidadezinha com um restaurantezinho bacana aberto, pare e almoce! Pode ser que na próxima cidade esteja tudo fechado e você tenha que almoçar açaí igual nós fizemos! Estava delicioso e refrescante e com certeza foi o açaí mais mineiro que tomamos, inclusive com preparo ao som de modão de viola tocando no rádio. Isso tudo no pacato distrito de Tapera.
Depois de Tapera começamos a pegar mais pistas de asfalto pela MG-010 indicando que estávamos chegando próximo ao final do Caminho dos Diamantes. Entretanto decidimos dormir em Milho Verde, por ser mais barato que Diamantina e por possuir vários rios e cachoeirinhas próximos que poderiam ser aproveitados.
Antes disso, pausa estratégica em Serro para comprarmos todos os queijos que conseguimos carregar! A região é produtora de renome de um dos melhores queijos de Minas Gerais e do Brasil. Tem de todos os tipos frescos, curados, meia-cura, lembre-se de comprar uma goiabada junto também. O melhor local para comprar é na cooperativa bem no centro da cidade, caso esteja muito tumultuada, na saída da cidade também tem uma lojinha com os sabores das minas gerais.
Milho Verde mais parece uma cidade de praia sem a praia ou uma São Jorge da Chapada dos Veadeiros, só que mineira! Ficamos na pousada Sempre Viva, bem charmosa, com vista para as montanhas e que aceita animais de estimação sem custos adicionais! Ela fica super bem localizada ao lado do Lajeado que é um rio com formações rochosas e piscinas naturais cor de Coca-Cola onde o pessoal vai com a família inteira passar o dia. O café da manhã na pousada é sensacional, tudo fresquinho, quentinho e novinho (diária R$ 165, mais barato que Diamantina).
No jantar fomos ao restaurante Angu Duro, com atendimento do próprio dono e pizzas maravilhosas. Pedimos uma de Funghi que estava excelente! Ele também oferece uma carta de vinhos variada e está começando a ofertar cervejas artesanais.
4º Dia: Milho Verde – São Gonçalo do Rio das Pedras – Diamantina
No último dia de Estrada Real, passamos a manhã no lajeado em Milho Verde e seguimos rumo à Diamantina em busca dos nossos três últimos carimbos.
Aqui o trajeto é todo de asfalto e pedras. Chegamos em Diamantina por volta das 14 horas, conquistamos nosso último carimbo, retiramos noss
o certificado no Receptivo Minas Gerais e tomamos um sorvete para comemorar o fim da jornada. Foi um passeio e tanto. Agora que temos nosso certificado do Caminho dos Diamantes com certeza vamos voltar em busca de mais carimbos e novos caminhos!
Qualquer dúvida, posta nos comentários que a gente responde!
Comentários